domingo, 6 de maio de 2007

MÃE

Tenho ao cimo da escada, de madeira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira
Arrancada a um Calvário de Capela.

Põe as mãos com fervor e angústia. O manto
Cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e de espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe das Dores, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe: - A sua bênção, Mãe!

Sim, fazemo-nos boa companhia,
E não me assusta a sua dor: quase me apraz.
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia.
Só isto bastaria a me dar paz.

- Porque choras, Mulher? - docemente a repreendo.
Mas à minh'alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo: - Não é por Ele...
- Eu sei! Teus filhos somos nós.


.
José Régio

1 comentário:

Sandra Dantas disse...

Amigo Joaquim,
gosto tanto deste poema!
Obrigada por trazê-lo aqui!

Um abraço!