Imaginemos uma cena de uma manhã. Um escritor, sentado em sua escrivaninha, está pronto para escrever um outro capítulo de sua história. Ontem fora um dia longo, pois ele gastara todo seu tempo empenhado em finalizar seu livro. Já era tarde quando decidira deixar uma parte especial para o dia seguinte. Afinal, a pena estava desgastada por demais, além do que a tinta já não era suficiente para relatar os fatos com a devida precisão da qual ele não abria mão.
Lucas, o autor do terceiro evangelho o qual leva o seu nome, sabia, neste momento, que, de tudo aquilo que registrara, ele estava prestes a narrar uma parte que poderia ser a mais importante da biografia que estava escrevendo, a saber, as últimas palavras de Jesus, o protagonista de sua história.
Este autor ainda se via tão maravilhado com o resultado estético produzido na forma como conseguira contar a história da ressurreição de Jesus e sua aparição aos discípulos de Emaús, que resolveu dar seqüência aos fatos. Segundo as anotações que Lucas fizera de sua pesquisa de campo, quando ouviu testemunhas oculares dos eventos narrados por ele, percebera que era possível se falar um pouco mais daquilo que ele encontrou na sua investigação documental. Assim, o que em Mateus e em Marcos está escrito em cinco versículos, Lucas preferiu narrar de uma outra maneira no capítulo 24 de seu livro, dos versículos 36 a 49.
“Não! Jesus não era tão rude assim!”, pode ter pensado Lucas ao concluir a leitura dos seus colegas evangelistas. Havia algo de especial neste último encontro que nem Mateus nem Marcos relataram. Uma dúvida cruel pode ter vindo na mente deste autor sacro. De um lado, ele se sentia inspirado pelo Espírito Santo a falar da parte de Deus para um público mais exigente, que eram os gregos. De outro, estava certo de que não poderia abandonar seu sentimento de pertença a uma tradição escriturística.
Ao refletir sobre tudo isso, Lucas pôde construir uma cena mais completa dos últimos momentos de Jesus, especialmente através de suas últimas palavras.
terça-feira, 1 de maio de 2007
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