Senhor, do alto sei que vês melhor:
Quanto mais se sobe, maior a visão.
Teus olhos abrangem a eternidade:
Contemplam o sol em sua imensidade,
Vêem o verme a se arrastar no chão.
Para que então ficar gritando ao mundo:
Olha o que tenho, o que sei, quem sou?
Se lá do alto vês o mundo todo,
Tu sabes, Senhor, onde eu estou.
Tu sabes por que vim ao mundo,
Tens uma missão pra mim.
Nada mais falta que submissão,
Dizer: - Ordena. Abrir o coração,
Ouvir a ordem e obedecer assim:
Sem importar a obra que a mim couber,
Ou o lugar em que meu campo esteja.
Pode ser obscura minha atuação,
O que me importa é tua aprovação,
Ser tudo aquilo que queres que eu seja.
Talvez não tenha a sorte das estrelas,
Que belas cintilam, dando inspiração.
Talvez meu campo seja o mais mesquinho:
Que me importa se me tornar caminho
Por onde passe a tua compaixão?
Foram caminhos os servos do passado,
Através da História, um traço de luz:
Abraão, Moisés, José, Rute, Davi,
Jonas, Éster, foram no tempo aqui
Apenas caminhos em direção da cruz.
Os que vieram depois, também caminhos,
Por onde a graça de Jesus passou,
Em busca do oprimido e do aflito,
Caminhos que se fundem no infinito,
No Único Caminho que um dia me salvou.
Agora, Senhor, a minha prece:
Eu quero a graça de participar;
Se não posso ser um caminho brilhante,
Faze-me atalho na serra distante,
Mas onde o mundo veja teu amor passar.
Usa-me Senhor, durante o tempo,
Para que no dia em que subir ao céu,
Possa dizer-Te, com um sorriso doce:
- Nada ajuntei, por isso nada trouxe,
Na terra fui apenas um caminho teu.
Myrtes Mathias
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