quinta-feira, 14 de junho de 2007

A vida não é uma corrida

Um especialista em treinamento empresarial, em seus cursos para motivar o pessoal à competição, costuma contar a seguinte historinha :

“Um avião caiu no meio da selva, no coração da savana africana. Todos os passageiros sobreviveram. Mas, agora precisariam enfrentar um desafio ainda mais difícil: O grupo já começava a ser cercado, de longe, por leões famintos, que sentiam o cheiro de sangue fresco. Cada pessoa do grupo reagiu ao seu próprio modo. Alguns praguejavam, outros choravam, outros ainda pediam ajuda aos céus... Mas um rapaz entre eles teve uma reação única: colocou-se à parte, abriu sua mala (que ele tinha achado no meio dos destroços), pegou e vestiu sua roupa de ginástica e começou a se alongar. Os outros olharam para ele, incrédulos, e perguntaram: ‘O que deu em você? Está achando que vai conseguir correr mais do que os leões? Isso é impossível!’ – O rapaz olhou bem pra cara de todos, sorriu e respondeu: ‘Não, eu não pretendo correr mais do que os leões, eu sei que isso é impossível. O que eu vou tentar fazer é correr mais do que vocês!’”

Achou bonitinho? Eu não. Isso resume bem o pensamento que domina o nosso inconsciente coletivo nos dias de hoje: “Corra por si, salve sua pele e que se danem os outros”.

Na mesma hora em que ouvi essa historinha, fiquei com uma dúvida: Qual a fera mais terrível? O leão, que caça para sobreviver, seguindo seu instinto natural, ou o homem, que destroça impiedosamente seus próprios semelhantes, que ele considera como concorrentes na busca pelo tal "sucesso"? E também imaginei um final diferente para essa historinha ridícula.

Os leões são animais muito poderosos e velozes, exímios predadores por natureza, mas eles não têm o hábito de atacar grupos unidos, compactos. Quando caçam zebras ou antílopes, por exemplo, eles procuram sempre um animal desgarrado do grupo, que é uma presa mais fácil. Quase todo mundo já viu isso no ‘Discovery Channel’... Às vezes, eles são capazes de rondar uma manada de cervos por horas, até que algum deles se distraia e se afaste do grupo. Aí, ‘PUMBA!!’ – com um ataque fulminante, derrubam e matam o pobre. Então, o que acontece, na minha versão da historinha? Aí vai:

“O 'espertão' tentou sair correndo, na confiança de que todos fariam a mesma coisa, e crente de que seria o mais rápido do grupo, salvando sua pele egoísta. Mas ele correu sozinho, e os leões foram atrás dele! Foi caçado e devorado. Quanto ao resto do grupo, que permaneceu unido, apesar do medo e da angústia, não foi atacado, já que é costume dos leões não atacar grupos unidos. Depois de algumas horas, foram resgatados pela equipe de resgate."

Agora sim... não ficou bem melhor?

Precisamos mudar nossos paradigmas com urgência. A violência no mundo aumenta proporcionalmente ao aumento das absurdas desigualdades sociais. E é esse tipo de mentalidade que está nos levando ao caos. Por que um precisa ter 10 casas de luxo, se ele só pode morar em uma, enquanto milhares moram nas ruas ou vivem em condições sub-humanas?

O ser humano precisa voltar a se solidarizar com o seu próximo. Essa é a mensagem do nosso Cristo. Se hoje eu consigo “correr” mais do que os meus concorrentes, do que isso vai me adiantar, se amanhã o coitado que eu "deixei para trás" me vier assaltar, a mim ou a alguém da minha família? Precisamos aprender a trabalhar juntos, “coexistir” não é só admitir visões de mundo diversas, ser tolerante ou respeitar as diferentes opções de vida. Coexistir com dignidade, de verdade, é fazer a minha parte pelo bem de todos.

Chega dessa cultura absurda que classifica seres humanos em dois grupos: o dos “vencedores" e o dos “perdedores”. Lembre-se que a pessoa que está em último lugar poderia ter sido você!.. Além disso, alcançar uma boa posição na corrida da vida pode não depender só da dedicação de cada um: Se a vida é uma corrida, o que você faria, se tivesse nascido fisicamente incapacitado para correr?

Vamos competir menos e nos ajudar mais.

1 comentário:

Anónimo disse...

De facto.... ficou bem melhor!
Obrigada por esta partilha.