sexta-feira, 27 de abril de 2007

O nome dele era Ismael

Conta-nos a Bíblia que o nome do primeiro filho de Abraão era Ismael, o qual teve aos 86 anos, da sua serva egípcia Agar. Esse possível herdeiro do patriarca de Israel fora rejeitado muito cedo, por causa do nascimento de Isaque, o verdadeiro descendente da promessa, filho de Sara, a esposa de Abraão. (Cf. Gn 15,1-11; 16,1-15; 21,1-21) Esta tragédia familiar, vivida pelo pequeno Ismael, inspirou um jovem que, na semana passada, resolveu entrar nas páginas da história mundial de um jeito bastante violento. O estudante de 23 anos, que disparou tiros contra colegas e professores da universidade onde estudava nos EUA, deixando 32 mortos, escolheu como pseudônimo “A. Ishmael”, nome escrito no material que ele supostamente enviara à emissora NBC momentos antes de cometer suicídio.

O fato de o coreano Cho Seung-Hui se sentir solitário e rejeitado no ambiente onde estudava nunca justificaria tão desumana atitude. Gênesis nos ensina que Deus é justo para com aqueles que são injustiçados, pois Ismael, embora rejeitado por seu pai, não fora esquecido por aquele que é pai de todos nós. Cho certamente teria uma outra visão deste filho de Abraão se observasse com a mente e com o coração que, no momento mais difícil que este menino passou, junto à sua mãe no deserto, após saírem da casa de seu pai, ele pôde conhecer alguém que nunca o rejeitou, nem o rejeitaria. Deus ouve sempre a voz dos injustiçados, tal como ouviu a do menino Ismael. A palavra divina de consolo a ele e à sua mãe foi: “não temas” (Gn 21,17). Sem ouvidos para isto, infelizmente, estava aquele rapaz que chegou a se comparar com Jesus Cristo, esquecendo-se de que o próprio filho de Deus clamou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27,46).

A história de Ismael, portanto, tem dois lados cujos extremos apontam para problemas graves que vivemos em nossos dias. Um deles é a endêmica tendência atual de rejeição ao outro. Nossos preconceitos são postos antes mesmo de conhecermos uma pessoa. Julgamos, consciente ou inconscientemente, pela cor de pele, pela roupa, pelo modo de falar, pela aparência, ou por qualquer outra coisa que possa imprimir no outro uma pseudo-impressão. Todavia, é comum também que este rejeitado ou injustiçado se ache no direito de fazer justiça com as próprias mãos. Muitas vezes, esta pessoa fica tão cega que não observa que está contribuindo para uma injustiça maior do que aquela sofrida por ela mesma.

Ora, Ismael foi rejeitado, sim. E isso é um crime em qualquer hipótese. No entanto, a ele não caberia o direito de fazer justiça da forma que bem entendesse. A sua voz de desespero foi ouvida, como sempre será a de qualquer injustiçada ou injustiçado que clame, mesmo quando seu clamor seja apenas uma voz de choro. Aos que praticam a injustiça as Escrituras respondem: “Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias” (Sl 7,11). Ele também sente a injustiça, indignando-se contra aqueles impiedosos, como nos ensina Salmos. Por isso, sejamos sempre promotores da justiça para que surjam menos Ismael’s do tipo de Blacksburg e mais Ismael’s do tipo bíblico.

3 comentários:

Elsa Sequeira disse...

Querido Felipe!!
È de braços e coração aberto que te dou as boas vindas a este nosso Amor de Deus!
Pois, que aqui todos se sintam amados por todos e nunca rejeitados!!
Adorei o teu post! Essa alma querida e linda, e esse coração meigo sempre brota das tuas palavras!!

beijinhos!
:)

Cátia disse...

Felipe,

Quando li o teu post as lagrimas vieram-me aos olhos... acredita!!

Cabe-nos a nós escolher que Ismael's queremos ser, que queremos ter na nossa vida, na nossa sociedade...

É um prazer ter-te connosco nesta cantinho de Deus... E como a Elsa diz, serás sempre mt bem recebido e de braços abertos...

Beijinhos

Felipe Fanuel disse...

Brigadinho, queridas!