sexta-feira, 13 de julho de 2007

Declarações polêmicas de Bento XVI


É sempre mais fácil "comprar" o que já vem mastigado no noticiário do que entrar no site oficial do Vaticano, por exemplo, ou procurar um pároco para se informar sobre o que de fato está acontecendo.

Segue um trecho de documento oficial, redigido por Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI):

"Os cristãos devem se considerar irmãos de todos os homens, e se comportar de acordo com isso. No que diz respeito às religiões não cristãs, a Igreja Católica não rejeita nada daquilo que nelas seja verdadeiro e sagrado. Desse modo, no que diz respeito às outras religiões, os católicos tentam dar valor aos elementos de verdade, não importando onde sejam encontrados, e ao mesmo tempo prestar testemunho da novidade da Revelação de Cristo, preservada em sua integridade pela Igreja. Coerentes com essa atitude, rejeitam como alheio ao Espírito de Cristo qualquer discriminação contra pessoas baseada em religião. As diferenças entre as religiões nunca deveriam ser causa de violência. Em vez disso, as pessoas de credos diferentes devem se sentir motivadas, justamente por causa dessas crenças, a trabalharem pela paz e pela justiça."

Não devemos acreditar prontamente em tudo que diz a mídia. Ela está atualmente dominada por um tipo de intelectualismo predominantemente marxista que detesta o catolicismo, e ainda mais o atual Papa, por ser conservador. O que eles queriam e esperavam do novo pontífice era que fosse um revolucionário, uma espécie de "Che Guevara de batina", lutando pela revolução, por reformas políticas e contra governos, etc, etc, etc... O que o mundo secular mais queria era ver o novo papa liberalizando usos e costumes modernos, como abortos, casamentos homossexuais e pesquisas com células-tronco (um eufemismo para assassinato de fetos que só uma ciência anticristã poderia levar adiante), além da liberação total das novas ”teologias” que mais e mais se afastam do cerne doutrinário original. Mas Bento XVI preferiu iniciar um movimento de volta às origens. Tem muita gente importante decepcionadíssima, e não vão sossegar enquanto durar este papado. Até lá, tudo que ele disser será usado contra ele mesmo.

Há pouco tempo, no Brasil, a mídia divulgou maciçamente que o Papa teria afirmado que os divorciados são uma "praga", e também que ele tinha decretado que as missas voltassem a ser rezadas em latim, com o sacerdote de costas para os fiéis, excluindo o povo da celebração, entre outras coisas...

A grande maioria, lógico, não se importou em ir buscar os fatos, exatamente como está acontecendo agora. Eu mesmo fiquei surpreso com a notícia. Mas bastou uma lida rápida no documento oficial do Vaticano para ver que a tradução que a mídia brasileira divulgou (com críticas pesadíssimas ao Papa) estava completamente errada! A palavra "piaga", no original italiano, significa "chaga", e jamais "praga", como muita gente até hoje acha que ele disse. Quem ler o documento vai ver que ele se refere ao crescente número de divórcios entre cristãos (porque ele não ataca as outras religiões, ainda que muitas delas tenham como passatempo favorito atacar o catolicismo) é uma "piaga" - ou seja, uma "chaga" - e motivo de muita tristeza para a Igreja, porque as pessoas estão perdendo o sentido do sagrado nas relações, em especial no matrimônio.

Perceba como a afirmação, vista da maneira como ela realmente foi feita, tem um significado completamente diferente do que foi amplamente divulgado. Sobre o decreto das missas voltarem a ser celebradas em latim, isso simplesmente nunca existiu! O que o Papa fez foi liberar o pedido de uma certa corrente de sacerdotes para que possam celebrar a missa tradicional em latim, em ocasiões especiais. Em conclaves e celebrações extraordinárias entre cardeais, por exemplo, como uma forma de se preservar uma tradição que remonta ao tempo dos primeiros apóstolos.

Agora me diga: isso foi ou não uma deturpação completa?

Observação importante: Este Papa, desde o início, não está tentando atrair mais adeptos para o catolicismo, ao contrário. Ele está tentando dilapidar a Igreja. Na opinião dele (e na minha), as igrejas andam lotadas, mas de gente que não sabe exatamente o que está fazendo ali. Ele quer mudar isso. Já declarou publicamente, questionado sobre a perda de fiéis por parte do catolicismo, que não está preocupado com quantidade, mas sim que os católicos sejam católicos de fato. Só para constar: segundo estudiosos, uma profecia feita por S. Malaquias, há mais de 800 anos, refere-se a este Papa como depurador e renovador da Igreja...

Pra encerrar, sobre a última declaração feita por Bento XVI, sobre o catolicismo ser a única verdadeira Igreja de Cristo: Eu realmente não vejo nenhuma contradição no líder do catolicismo declarando que o catolicismo é a perfeita Igreja de Cristo. O Dalai Lama também diz que o budismo é o verdadeiro caminho da iluminação, e seria muito esquisito se ele falasse o contrário...

O documento diz, basicamente, que não se pode igualar todas as religiões cristãs e colocá-las "no mesmo saco", principalmente porque novas (e malucas) seitas que se dizem cristãs não param de surgir todos os dias. Como as igrejas surgidas depois da Reforma Protestante quebraram a sucessão apostólica e deixaram de lado os sacramentos, elas não podem ser consideradas Igreja, mas sim comunidades cristãs. O documento afirma, entretanto, que isso não significa que os outros cristãos, ou mesmo os seguidores de religiões não-cristãs, estejam excluídos da salvação, mesmo que não se convertam ao catolicismo.

Na verdade, o que o Vaticano II procura é desenvolver o ecumenismo e não o sincretismo. A Igreja sempre se afirmou como a única verdadeira, desde quando surgiu (e por motivos óbvios). O que o Papa disse é que a Igreja Católica (que significa UNIVERSAL) é a única que já tem todos os requisitos necessários e suficientes para que uma pessoa esteja no caminho certo do seu desenvolvimento espiritual. Pois após a cisma do oriente e as ondas da revolução protestante, a Igreja se dividiu, e muitas outras comunidades tentam hoje usurpar um lugar que não lhes pertence. Elas deveriam ter a consciência de reconhecer que são comunidades cristãs sim, mas são protestantes. São igrejas ortodoxas, mas não universais (católicas). A Igreja Católica é de fato a única que foi fundada por Cristo e todo historiador sabe disso. Mas o Papa tem a consciência de que a Igreja não é a dona da verdade. Por isso ele apenas disse que como instituição religiosa, a Igreja Católica tem todos os requisitos suficientes que o homem necessita. Não disse nada mais que a verdade.

Honestamente, acho que vamos continuar vendo, ainda por um bom tempo, polêmicas forçadas em tudo que esse Papa falar e fizer. Mas a minha opinião pessoal é a de que talvez tudo isso faça parte de um Plano maior, um sinal entre sinais.

4 comentários:

Nelson Viana disse...

Em relação à Igreja Católica, cada vez mais escuto críticas injustas, feitas quase sempre em tom de julgamento. Também é verdade que isso acontece há 2000 anos, desde a fundação da Igreja por Jesus Cristo.
Ele foi condenado à morte por dar vista aos cegos, por curar os doentes, e ainda por ressuscitar os mortos.
Ele bem nos avisou que "o servo não é mais do que o seu senhor".
É importante esclarecer que o papel da Igreja é o de educar os cristãos para a perfeição(Mateus 5, 48) e para a santidade.
A nível pessoal, a minha aproximação à Igreja trouxe-me alguns desgostos, mas com o tempo e com a graça de Deus tudo se ultrapassa.
Em relação ao Papa actual, fico triste pelas palavras injustas. Dizem que é conservador...mas educar para a santidade é ser conservador? É essa a meta a alcançar para qualquer cristão.
Nos nossos dias fala-se tanto em liberdade de expressão. Eu pergunto: será que a Igreja não tem o mesmo direito à liberdade de expressão que os seus "inimigos"? Nisto tudo o que falha é uma enorme falta de respeito pela fé de cada um. Eu não oiço a Igreja a julgar seja quem for pelas suas opcões. Ela limita-se a educar os seus fiéis, dando exemplos daquilo que não é correcto fazer. Mas acima de tudo respeita a liberdade de cada pessoa.
É claro que por vezes certos religosos não vivem aquilo que ensinam, mas se nós conseguimos perceber que estes estão no caminho errado, também conseguiremos perceber quem está no caminho certo. São esses que devemos seguir, isto é, os bons exemplos.
Teria tantas coisas para dizer, mas fica para outra altura.

Que Deus nos abençoe a todos, mas principalmente os mais necessitados, tanto a nível humano, como espiritual.

Obrigado pelo post, caro Merton.

Laurie Queiroz disse...

Também quero agradecer tanto pelo post quanto pelocomentário.

H K Merton disse...

Obrigado, queridos. Esse julgamento injusto e essa perseguição que a Igreja vêm sofrendo, na minha opinião, é um sinal dos tempos. Esperemos e vejamos... A Paz!

sonia farmaceutica disse...

No momento da eleição deste Papa, eu pensei logo que este papado haveria de estar sempre rodeado de polémica. Eu própria, quando oiço alguma notícia deste tipo, costumo tentar saber exactamente o que foi dito para não fazer juízos errados! O que é grave é que, como se não bastasse a deturpação feita pela comunicação social, os próprios católicos que frequentam a Igreja todos os domingos vão na onda e acreditam piamente em tudo o que ouvem sem tentar ir ao cerne da questão. Este Papa é um conservador é um facto mas não podemos esperar uma Igreja feita à nossa medida. Jesus Cristo foi um revolucionario no seu tempo mas se calhar agora até já seria considerado conservador!