quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A mãe consciência
Sempre perto e ao nosso lado, como uma mãe para seu filho, pequeno ou adulto,
Pelos tempos fora.
Algo vai em nós, num local escondido que nem nós o vemos.
Sempre atento a cada passo da caminhada que escolhemos ou nos calhou.

Nos segreda conselhos sobre o que nos é bom ou mau.
Nos aplaude e nos censura, com verdade e prontidão, acerca do que fazemos.
Como lâmpada acesa que alumia nosso caminho, evitando precipícios.
Nos orienta nas encruzilhadas.
Que seria da nossa vida se não tivéssemos esta companhia?
Com certeza. Teríamos baqueado inexoravelmente. Nossa vida seria uma linha imensa tecida de derrotas e de sofrimento.
Bendita companheira que, gratuitamente, nos foi dada por Alguém.
Só quer o nosso bem.
Como uma mãe…
Ouvindo Schubert
Berlim, 4 de Agosto de 2020
17h27m
Jlmg
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Pela tardinha em Berlim
Quando sorriem os telhados e janelas ao sol que se está a pôr.
No céu, as nuvens paralelas se adoçam parecendo dormitar.
Nas ruas buliçosas murchou o trânsito.
Está na hora do jantar.

Aquela grua alta e amarela, ninguém está lá em cima, parou seu baile de arrepiar.
Até os corvos pretos, irrequietos, se foram, deixando de grasnar.
É a hora em que a paz regressa ao lar, semeando alegria e amor…
Berlim, 3 de Agosto de 202020h26m
Jlmg
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A primeira impressão
A partir do conhecimento de nós mesmos, por comparação, tendemos a avaliar os outros, na primeira vez que os vemos.
Quase sempre dá certo.
O género humano forma um feixe de tipos.
Cada um de nós pertence total ou parcialmente a um deles ou a vários.

Se a pessoa o pertencer também, é muito provável, que esteja certo o primeiro juízo que fazemos.
Daí a empatia que brota desde logo.
Facilitando o entendimento.
Aproximando os caminhos.
É enorme o gradiente. Desde a simpatia imediata ao florescer duma amizade.
E, quem sabe. Dum amor para todo o sempre?...
Ouvindo Schubert
Bar dos “Motocas” arredores de Berlim, 3 de Agosto de 2020
15h0m ( relógio de cuco deste bar diz que são 15horas)
Jlmg
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Algumas regras de bom saber

Abrir as asas e voar para o infinito.
Deixar para trás as poeiras e sujidades da terra.

Suas mesquinhezes.
Superar o vazio da opulência e do querer ter sempre mais.
Ficar leve como uma borboleta.
Navegar solto de amarras fúteis.
Se entregar à sorte de viver como um privilegiado.
Saborear o ócio bom contemplando o belo.
Arquivar no esquecimento todos os desaires que foram superados.
Beber um copo de vinho quando se sente a tristeza a voltar.
Cantarolar como os pardais em liberdade.
Bater a porta ao desperdício para ter na hora o que faz falta.
Tudo isto é o bom saber...

Berlim, 2 de Agosto de 2020
16h9m
Jlmg
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Prima Fernanda Diogo e filhos
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Abrir as asas e voar para o infinito.
Deixar para trás as poeiras e sujidades da terra.
Suas mesquinhezes.
Superar o vazio da opulência e do querer ter sempre mais.
Ficar leve como uma borboleta.

Navegar solto de amarras fúteis.
Se entregar ao suave dom da contemplação do belo.
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O lavrista

Tomou uma pedra. Rude.
Um seixo disforme.

Poisou-a no chão.
Afez-se a ela.
Maço e guilho afiado.

Definiu-lhe a cabeça do tronco.
Delineou-lhe um rosto oval.
Riscou-lhe o nariz.
Um nada adunco.
Traçou-lhe o sobrolho.
Desenhou-lhe a boca.
Adoçada nos lábios.

Abriu-lhe os olhos.
Como fez a Cleópatra.

Espalhou-lhe cabelos na nuca.
A correrem para a testa.
Indeciso, arriscou-lhe a barba. Hirsuta.
Lavrou-lhe as orelhas. Quase escondidas.
Alisou-lhe as faces. Macias. Sem cor.
Adornou-lhe o tronco.
Braços caídos, entre o peito e o ventre.
Vestiu-o dum manto escorrendo-lhe as pregas.
Inebriado. Fitou-o nos olhos.
Soprou-lhe a alma.
Regou-o de vida.
Exclamou a chorar:

- De ora em diante, serás meu irmão!…

Ouvindo Borodin
Berlim, 30 de Julho de 2020
19h28m
Jlmg
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Suave milagre
Para os pais. Ver um filho, empedernido, por sendas contrárias, voltar para o normal.
Arroubos de arrogância. Só ele é que sabe.
Dum dia para o outro,
Voltou para trás.

Voltou para o normal.
Concluiu que sozinho, não pode viver.
Os anjos dos pais suplicaram para Deus, que é seu Pai e Senhor,
Se interessa por ele.
O quer como nós.
Voltou ao normal.
As mesmas dengozisses.
Por vezes, lamechas.
É como é.
Suave milagre.
Graças a Deus e aos pais que lhes deu…
Berlim, 30 de Julho de 2020
12h40m
Jlmg
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Ovo estrelado
Que rico prazer um ovo estrelado, quando ataca a larica, ao meio da tarde...
E, na hora da sesta, quando estalam os ossos e aperta o calor, dar um mergulho no fresquinho do tanque...
...Ver mais
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Não me cansarei de esperar…
Não me cansarei de esperar que venha um raio de sol e rasgue este céu pardacento.
A alegria da luz vale o tormento e a dor.
Esperar ainda é viver.
Enquanto a noite não cai.

Cada momento é um passo adiante.
Ficar como estava, quase a falir, é que não hei-de ficar.
Nunca faltou quem, um dia, muito lá atrás, sem eu lhe pedir, em prosa e em verso, me pôs a escrever…
Ouvindo Serenata de Schubert
Berlim, 29 de Julho de 2020
18h17m
Jlmg
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Segredos imortais
O tempo não consegue devassar os segredos imortais.
Guardados a sete chaves, têm a chave do indefinido.
Resistem ao tempo como a pedra agreste num declive abrupto.
Têm o condão de ocultar mistérios gravados pela natureza.

Como surgiu a vida nesta terra inóspita?
Como se cobriram de verde todas as ladeiras?
Nem os sábios ou maiores adivinhos do mundo os conseguem decifrar.
Somos todos espectadores inertes perante o estendal de vida.
E, no meio de tudo, como despertou o pensamento nas consciências?
E a voz desperta da consciência que não perdoa ao próprio dono?...
Ouvindo Schubert
Berlim, 28 de Julho de 2020
21h15m
Jlmg
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Recantos de sonho
Percorrendo o País se encontram recantos que só o sonho traçou.
Praças da aldeia.
O pelourinho ao centro.
Bordadas de casas com varandas corridas.
A feira e a festa se realizam ali.
Procissões com andores,
Esbordados de cores.
O pálio imponente cobrindo o abade.
Coretos amovíveis ali se implantam,
Servindo músicas a sério,
Com bandas de fora.
E, pela noite dentro,
Em grande festança, decorrem noitadas.
Tendas de pano, com pipas de vinho,
Servem petiscos a todas as horas.
Até que, dúzias de fogo,
Subindo no ar, rasgando a noite, com rastos de luz,
Põem ao rubro os ânimos das gentes,
Até que outro ano decorra...
Berlim, 27 de Julho de 2020
20h21m
Jlmg
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Templo Cultural Delfos
Salvador Dali pintando "La Cara de la Guerra" (The Visage of War), em 1940
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Escadas sombrias

Sobem esconsas as ruelas, sombrias
Que vão do Mondego ao Penedo da Saudade.

Casas brancas, portas estreitas e ombreiras.
Capas pretas. Luarentas.
Desgarradas para as janelas.
Lá no cimo. As estudantes recatadas.
Expectantes.
Amorosas. Saudosas.
Seus amores, em segredo.
Garraiadas. Estrepitosas.
Bem regadas.
Pelas calçadas, sombrias, luarentas.

É Coimbra apaixonada do Mondego.
Do Choupal e da Lapa
A fervilhar. Hospitaleira e orgulhosa.
Pensamento. Sabedoria de primeira, em escola livre e arejada.
Alfobre perene, em combustão...

Berlim, 27 de Julho de 2020
9h49m
Jlmg
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Escadas sombrias
Sobem as ruas esconsas, sombrias
Azinhagas.
Que vão do Mondego ao Penedo da Saudade.
Casas brancas, portas estreitas.

Capas pretas. Luarentas.
Desgarradas para as janelas.
Lá no cimo. Ao luar.
As estudantes recatadas.
Expectantes.
Amorosas. Saudosas.
Seus amores, em segredo.
Garraiadas. Bem regadas.
Estrepitosas. Pelas calçadas, sombrias, luarentas.
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Plangente e lacrimoso

Plangente e lacrimoso o piano chora.
Se desfaz em lágrimas.

Toca triste a melodia.
Veementes rangem suas teclas.
São de dor suas pancadas.
Rio largo, impetuoso, corre em fúria para o mar.
Clama por clemência e esperança.
A humanidade sofre atroz este sinal de ira.
Seus passos se extraviaram da rota da justiça e da fraternidade.
A terra se cobriu de sangue inocente.
Pela voragem insaciável dos poderosos.
Mas, foram, exemplarmente destronados e humilhados.
Jazem no chão incapazes de se eximirem à força desta vaga inclemente que os depôs.

Ouvindo Schubert

Berlim, 26 de Julho de 2020
7h34m
Jlmg
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Desinfestar os males
Oro ao sol desinfeste as nuvens negras que, de repente, toldaram a terra de tristeza e de angústia.
Secaram os sonhos de viver.
Nos sentimos amordaçados pelo terror do temor.
Ficaram presos nossos passos.

Deixamos de voar com medo das tempestades inesperadas e imprevisíveis.
Temos os olhos entumecidos por pesadelos das noites mal dormidas.
A esperança deixou de brilhar no horizonte.
Soaram a rebate os sinos da aflição.
Parece que o abandono se instalou.
Mas eu, contra tudo e todos, creio vivamente que não estamos abandonados.
Brevemente, há-de vir Alguém, a socorrer e desinfestar todos os males...
Ouvindo Schubert
Berlim, 25 de Julho de 2020
8h23m
Jlmg
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Estrofes em castelo
Ergo castelos de sonho como de fábulas fez Esopo.
Os povoo com poemas como fadas encantadas.
Organizo festas nas noitadas luarentas.
Me enleio absorto nos sonhos da poesia.
Me entrego à paz do espírito como o sol se entrega à terra em cada dia.
Tenho em mim o destino da eternidade.
Suspiro ardentemente pela hora da libertação terrena,
de todas as angústias e incertezas.
Não estou só.
Sou um só da humanidade.
Berlim, 24 de Julho de 2020
18h22m
Jlmg
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Quem haveria de dizer…
Nasceu de família rica e apalaçada.
Frequentou colégios dos melhores que havia pela redondeza.
Foi para o Porto.
Quis viver sozinho.
Ruelas manhosas.
Crivou-se de vícios.
Mergulhou nas drogas.
Dormia no chão.
Inverno e verão.
Fez-se um farrapo.
Tudo esqueceu.
A família inteira.
Lá na aldeia serrana.
‘Inda espera por ele.
Juiz ou doutor.
Um destino perdido.
Mas a avozinha velha,
Lhe queria tanto.
De pequenino o cuidou.
Todas as noites acendia uma vela.
Senhora da Esperança!
Senhora de Fátima!
Uma fé total.
Há-de aparecer.
…...................
Certo dia, pela tardinha,
Apareceu ao portão
Da quinta murada.
Conhecia-o tão bem.
O velho cão logo apareceu.
Se atirou a ele.
A ladrar de júbilo.
A velha criada assomou ao alto,
Lá do escadório,
A ver o que era.
E o cão, de contente, ladrava, ladrava.
Sem lhe fazer mal.
Um pressentimento:
Só pode ser ele.
O Antoninho.
Desceu a correr.
Que grande abraço.
Eu sabia que havia de voltar.
E agora a avozinha?
Seja o Deus quiser.
…...........
Que grande festa houve naquela mansão, naquela noite.
Quem haveria de dizer?...
Berlim, 24 de Julho de 2020
7h21m
Jlmg

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