domingo, 29 de março de 2020

Sou aldeão de gema

Sou aldeão de gema
Sou, visceralmente, um aldeão. Serrano.
Corre terra telúrica no meu sangue vivo.
Arfo a sol e monte.
Urzes e giestas são minhas flores adoradas.
Mato a sede com água pura.
Sua fonte é o ventre da terra sã.
Junto pedras às minhas pedras e construo meu abrigo.
O fogo é meu companheiro.
Minha lareira é um altar sagrado.
Vou às pinhas.
E ao cisco morto.
Odeio o fumo.
Como caldo.
São da minha horta as couves verdes.
Minha almotolia me alumia, inverno dentro.
Curto, em segredo, as azeitonas no meu odre, atrás da porta.
Dão para o ano inteiro.
Cozo pão de milho.
Mato o bicho com aguardente pura.
Como o alambique a faz.
Sou rijo como o granito,
Ao sol e vento.
Esconjuro o mal com a cruz de Cristo…
Mafra, 29 de Março de 2020
13h50m
Jlmg

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