quinta-feira, 14 de maio de 2009

PERDÃO QUE NÃO FOI DADO


PERDÃO QUE NÃO FOI DADO



Há uma dor do perdão que foi pedido e não foi dado. Há uma dor do perdão que se tornou impossível. Dói num, porque não o recebe e no outro, porque não dá.


Per-donare, como per-ceber, per-noitar, per-fazer vem da mesma raiz. Supõe amplitude, estender, ir mais além. Quando se percorre, corre-se maior extensão, quando algo perdura é porque dura mais do que o comum e quando alguém perturba é porque turba mais do que o suportável. O prefixo “per” deixa entrever empenho ou extensão maior.



Por isso, perdoar é dar mais do que se deseja dar: é ir além do estrito dever. Só perdoa quem é caridoso e generoso. O outro passou dos limites conosco e tirou-nos algo. Nós ultrapassamos nossos limites e lhe damos algo que ele não mereceria. Teríamos motivos para revidar, mas perdoamos.



Segundo diz Bento XVI no livro Dio e il Mondo, somos seres nídicos, precisamos ser acolhidos, sentimos falta do ninho. Quem se nega a alimentar o fraco, a longo prazo mata-o. Quem se sente forte a ponto de ir embora do outro, vá, mas não espere ser feliz. Quem não perdoa nunca, mas não imagine que será pessoa completa.



A pessoa perdoadora se revela mais pessoa do que a vingativa! Perdoar supõe um tipo de plenitude humana. Por isso, o não perdoado sofre, mas quem não perdoa também sofre. Um, porque pediu perdão e não recebeu, embora mostrasse sinais claros de mudança, o outro porque puniu demais, fez chantagem, arrancou do outro o que podia e mesmo assim não perdoou. Acontece! Todos os dias! Felicidade, porém, é outro departamento.



Quem deseja ser feliz algum dia, vai ter que parar de se morder e remoer o pecado do outro. O perdão que não foi dado vira raiva e ódio. E o ódio é como carga excessiva. Ou se enterra ou deixa em terra, mas voar com ela é um risco permanente. O avião não vai obedecer aos comandos.



Já, o perdão que foi dado se transforma em leveza. A vingança pesa muito mais! Pergunte a quem perdoa e a quem garante que jamais perdoará. Um deles tem vida muito mais serena! E não adianta culpar o outro. Se o outro já se penitenciou e pediu perdão, a pergunta é uma só:- Esta esperando o quê para ser feliz?



Pe. Zezinho, SCJ

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