terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Enquanto temos tempo..."

"Enquanto temos tempo... (Gl 6,10)

Numa importante passagem de seu epistolário, o Apóstolo lembra a fugacidade do tempo e a necessidade de o aproveitarmos com afinco. E por quê? Porque o tempo é a ocasião da semeadura de valores que colheremos na vida póstuma; quem semeia pouco, colherá pouco, mas quem semear muito, muito colherá (Gl 6, 10; 2Cor 9, 7-9).
Refletindo bem, verificamos que o tempo não é simplesmente uma dádiva de Deus, mas é sim o dom básico, sem o qual não pode haver outros dons. Infelizmente, porém, este dom nos escapa com facilidade; passa rápido sem que tomemos consciência do seu valor porque, muito atarefados, não conseguimos emergir para fora de nossas prementes obrigações a fim de avaliar o seu significado no conjunto da nossa vida. Há também aqueles para quem o tempo pouco vale, porque desligado da sua relação com o Além, de modo que vão procurar um "passa-tempo" no jogo ou na bebida...

Ao chegar o fim desta vida terrestre, muitos, olhando para trás, lamentarão ter perdido o tempo...; desejariam recomeçar a vida – o que será impossível; daí a grande frustração.

A fim de que tal desfecho não ocorra, exorta o Apóstolo: "Vede cuidadosamente como andais, não como tolos, mas como sábios" (Ef 5, 14). E que significa a expressão "como sábios"? – Sábio, na Escritura, é aquele que olha para os valores do aquém sob a luz do Além; coloca regularmente ante os olhos o Fim de todos os fins, ou seja, o encontro com o Infinito e Absoluto, dimensionando cada valor passageiro com o metro da eternidade.
Quem o faz, não é assustado nem desinstalado pela dita "morte", mas vê nesta a consumação de uma carreira consciente, uma carreira de quem rege o seu tempo e não é regido pelo tempo. Mais: quem assim vive, goza de paz, pois a causa básica que perturba e desmantela o homem é o desviar-se do Absoluto... desviar-se ele que foi feito para o Infinito: "Tu nos fizeste para Ti, Senhor, e inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti" (S. Agostinho, Confissões I 1).
Estas reflexões não implicam alienação do cristão frente aos seus afazeres temporais, pois, ele sabe que, ao desempenhar-se de tais deveres, ele joga não somente com seu nome, mas no nome de Cristo e da religião, nome este que não é lícito conspurcar, mas que é preciso abrilhantar por uma fidelidade generosa aos compromissos. O cristão não vive só para si, mas também – e principalmente – para Aquele que por ele morreu e ressuscitou (cf. 2Cor 5, 14; Rm 14, 7-9).

Tenha S. Agostinho a palavra final: "Façamos destes dias um símbolo do dia final. Façamos do lugar da mortalidade um símbolo do tempo da imortalidade. Caminhemos depressa para a morada eterna. "Felizes os que moram em vossa casa; podem louvar-vos continuamente" (Sl 84,5)".

(...) Sejam penhor de uma vida cada vez mais prenhe dos valores definitivos!

Pe. Estêvão Bettencourt, OSB

2 comentários:

Ailime disse...

É verdade, não percamos tempo, porque a vida terrena é tão efémera, que quando damos por nós…já passou!
Tantas vezes nos esquecemos do Senhor e de viver com Ele e para Ele!
Quantas vezes Ele nos aparece sob as mais diversas formas e nós não O reconhecemos!
Uma pessoa que nos aborda na rua e à qual não prestamos atenção, pode ser Jesus!
Um pobre na rua estendendo a sua mão, pode ser Jesus...
Um idoso sofrendo, sozinho em sua casa, as suas dores, pode ser Jesus...
Sim, não percamos tempo em sermos solidários e abandonemos as coisas fúteis, para que o nosso caminho até ao Pai seja um tempo de verdadeira felicidade para nós e para os outros! O Senhor espera por nós!
Um bem-haja pelo texto maravilhoso que nos foi apresentado!
Um abraço na Paz do Senhor!

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

A vida aqui na terra é coisa ligeira, que passa rapidamente. Nossos bens não podemos esquecer, são apenas emprestados.
Temos que viver a palavra de Deus todos os dias de nossa vida. E deixar que de vez em quando ele nos pegue no colo.
Um grande abraço
marthacorreaonline.blogspot.com