quarta-feira, 5 de agosto de 2020

O sabor da sabedoria
É vasto e fundo o mar.
A sabedoria é um mar.
As ideias e os conceitos navegam nele à solta e em liberdade.
A ele recorrem, a toda a hora, os pescadores com suas artes, as mais variadas.
Enchem os seus porões.
Como sardinha ou pescada.
Depois as levam com sofreguidão.
As descarregam, em grande festa, nas bancadas dos mercados.
A seguir são cozinhadas e servidas à mesa das refeições.
Cada cozinheiro tem sua mão.
Dali saem gostosos petiscos que saciam não só o corpo mas também a alma.
É bom e salutar mergulhar no mar da sabedoria a toda a hora...
Berlim, 23 de Julho de 2020
7h56m
Jlmg
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Palavras verdes
Soam verdes as palavras que aqui escrevo.
Neste bar “Motocas” como sempre o chamei.
Passaram anos. Momentos breves.
Mas com saudade.
Aqui volto depois de meio ano de forçada ausência.
Tudo me sorri ao sol.
Os mesmos bancos corridos.
Avenidas largas onde escorre a convivência fraternal de toda a gente.
Alegres se agitam as folhas das árvores sacudidas pela brisa.
Atrás da bancada, frente à cozinha, ali continuam os mesmos rostos, ganhando o pão.
A mesma fartura e qualidade presenteia nosso dinheiro.
É visível a costumada satisfação de quem por aqui passa…
Bar Motocas, arredores de Berlim, 22 de Julho de 2020
Ouvindo Schubert
Jlmg
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Os meus andarilhos
Saudosos, esperavam por mim, quase meio ano, no canto do hall.
Ausência forçada, hoje acabou.
Peguei-os e fui.
Pelos mesmos caminhos, sombreados de verde, à volta da casa.
A encontrar as mesmas pedrinhas, secos raminhos, cravadas no chão.
Sentei-me nos bancos, os mesmos, que abundam e se oferecem de graça.
Não vi as crianças dos jardins infantis.
Vi os carteiros diários.
Ufanos, distribuindo as cartas nas casas.
Não vi o pardal do costume que faz dum furinho no prédio sua casa feliz.
Não vi nenhum corvo. Que foi que lhes deu?...
Berlim, 21 de Julho de 2020
Jlmg
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Encontro na praça
São sinuosos os caminhos da vida.
Cada um tem os seus.
Se afastam ou cruzam, nas encruzilhadas da vida e nas praças.
Parecem acasos.
Na verdade, porém, tudo acontece por bem ou por mal.
Há influências latentes que puxam por nós.
Não se sabe a fonte.
Mas é verdade que há.
Aquele encontro na feira.
Com a pessoa certeira ou não.
Alguém apareceu.
Porque foi ou não foi.
Para o bem ou para o mal.
Não há destinos marcados.
Acaso ou não, nunca se sabe.
Berlim, 21 de Julho de 2020
18h24m
Jlmg
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Palavras certas…
Com palavras certas e justas, se tecem poemas, regados de poesia.
Com pedras lavradas, esquadrinhadas, precisas, se erguem muralhas, castelos e catedrais.
Janelas ao alto, fechadas com vitrais às cores, pintados de fresco, adornam paredes e naves onde se adora e se reza.
Altas, robustas colunas sustentam abóbodas regadas de luz que iluminam altares.
Altas ladeiras, pintadas de verde, tecem montanhas, banhadas de nuvens e campos extensos, regados de rios.
De horas alegres e amargas se tece o tempo e a vida que passa e não volta…
Ouvindo Serenata de Schubert
Berlim, 21 de Julho de 2020
Jlmg
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Arte e pão…
Não tem sabor a vida, sem arte e pão.
A arte a decora e pinta a alma.
O pão lhe alimenta o corpo.
A saúde é o seu perfume.
Sem arte tudo fica à parte.
Sem pão tudo fenece
E, depressa, virá o cheiro a morte.
Com arte e pão tudo dará certo porque a paz reina e a esperança acende a vida.
O sol é pão.
A chuva é fogo em brasa que aduba o chão…
Berlim, 21 de Julho de 2020
01h
Jlmg
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A humildade dos fortes
A força sabe o que vale.
Por isso se esconde.
Não está para reinar.
Quase tudo o que vê está ao alcance da mão.
Basta querer e já está.
O fraco finge poder, sem poder.
Se aventura por ínvios caminhos donde não sabe voltar.
Às duas por três, tudo perdeu.
E o regresso tornou-se impossível.
Só o socorro de alguém o pode salvar.
Benditos os que só contam o que têm.
Nunca se alcança o que a força não dá.
Ouvindo Pedro Barroso- Pedro Barroso
Roses, 17 de Julho de 2020
17h9m
Jlmg
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Ar sobranceiro

Ar sobranceiro.
Não diz o que é.
Tem medo.
Algo esconde.
Finge ser forte.
Cerra o sobrolho.
Se convence que é e não é.
Veste a ilusão.
Seu uniforme diário.
Mal se lhe abre a boca,
Despeja ignorância.
Seu falar é grosso e alto.
Ar corajoso.
No fundo, um medricas.
Com medo de tudo.
Tem medo do escuro.
Se lhe falta a lanterna,
Não sai para a rua.
Teme casar.
Sabe que a mulher é sempre quem sabe.
Só no nascer foi normal…
Roses, 17 de Julho de 2020
8h59m
Jlmg
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Derramaram prata neste mar ardente

Derramaram prata neste mar ardente.
Semearam luz neste mar sem fim.
Queimaram fogo como palha a arder.
Secaram sonhos que o tempo levou.
Horas suaves desta tarde de sol.
Um brinde à vida porque a morte vem.

Roses, 16 de Julho de 2020
11h52m
Jlmg
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As multidões…
As pessoas se amontoam.
Não somam e formam multidões.
Criam um ser novo.
Diferente.
Com alma própria.
Na forma de pensar e de agir.
Por vezes, irracionais.
Dissolvem as pessoas que as formam.
Elegem os seus ídolos.
À sua ordem, com cegueira, cometem crimes de lesa pátria.
Arrastam para o abismo, sem dar conta.
As multidões são capazes de gerar Hitler´s.
Mao´s.
Staline´s,
Mussoline´s
E o que mais ainda poderá vir.
Se calhar, foi uma multidão voraz, a mando dos poderosos, que gerou esta pandemia avassaladora.
Sem vencedores.
Só vencidos e humilhados…
Roses, 15 de Julho de 2020
16h59m
Jlmg

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