O sabor da sabedoria
É vasto e fundo o mar.
A sabedoria é um mar.
As ideias e os conceitos navegam nele à solta e em liberdade.
A ele recorrem, a toda a hora, os pescadores com suas artes, as mais variadas.
Enchem os seus porões.
Como sardinha ou pescada.
Depois as levam com sofreguidão.
As descarregam, em grande festa, nas bancadas dos mercados.
A seguir são cozinhadas e servidas à mesa das refeições.
Cada cozinheiro tem sua mão.
Dali saem gostosos petiscos que saciam não só o corpo mas também a alma.
É bom e salutar mergulhar no mar da sabedoria a toda a hora...
Berlim, 23 de Julho de 2020
7h56m
Jlmg
Palavras verdes
Soam verdes as palavras que aqui escrevo.
Neste bar “Motocas” como sempre o chamei.
Passaram anos. Momentos breves.
Mas com saudade.
Aqui volto depois de meio ano de forçada ausência.
Tudo me sorri ao sol.
Os mesmos bancos corridos.
Avenidas largas onde escorre a convivência fraternal de toda a gente.
Alegres se agitam as folhas das árvores sacudidas pela brisa.
Atrás da bancada, frente à cozinha, ali continuam os mesmos rostos, ganhando o pão.
A mesma fartura e qualidade presenteia nosso dinheiro.
É visível a costumada satisfação de quem por aqui passa…
Bar Motocas, arredores de Berlim, 22 de Julho de 2020
Ouvindo Schubert
Jlmg
Os meus andarilhos
Saudosos, esperavam por mim, quase meio ano, no canto do hall.
Ausência forçada, hoje acabou.
Peguei-os e fui.
Pelos mesmos caminhos, sombreados de verde, à volta da casa.
A encontrar as mesmas pedrinhas, secos raminhos, cravadas no chão.
Sentei-me nos bancos, os mesmos, que abundam e se oferecem de graça.
Não vi as crianças dos jardins infantis.
Vi os carteiros diários.
Ufanos, distribuindo as cartas nas casas.
Não vi o pardal do costume que faz dum furinho no prédio sua casa feliz.
Não vi nenhum corvo. Que foi que lhes deu?...
Berlim, 21 de Julho de 2020
Jlmg
Encontro na praça
São sinuosos os caminhos da vida.
Cada um tem os seus.
Se afastam ou cruzam, nas encruzilhadas da vida e nas praças.
Parecem acasos.
Na verdade, porém, tudo acontece por bem ou por mal.
Há influências latentes que puxam por nós.
Não se sabe a fonte.
Mas é verdade que há.
Aquele encontro na feira.
Com a pessoa certeira ou não.
Alguém apareceu.
Porque foi ou não foi.
Para o bem ou para o mal.
Não há destinos marcados.
Acaso ou não, nunca se sabe.
Berlim, 21 de Julho de 2020
18h24m
Jlmg
Palavras certas…
Com palavras certas e justas, se tecem poemas, regados de poesia.
Com pedras lavradas, esquadrinhadas, precisas, se erguem muralhas, castelos e catedrais.
Janelas ao alto, fechadas com vitrais às cores, pintados de fresco, adornam paredes e naves onde se adora e se reza.
Altas, robustas colunas sustentam abóbodas regadas de luz que iluminam altares.
Altas ladeiras, pintadas de verde, tecem montanhas, banhadas de nuvens e campos extensos, regados de rios.
De horas alegres e amargas se tece o tempo e a vida que passa e não volta…
Ouvindo Serenata de Schubert
Berlim, 21 de Julho de 2020
Jlmg
Arte e pão…
Não tem sabor a vida, sem arte e pão.
A arte a decora e pinta a alma.
O pão lhe alimenta o corpo.
A saúde é o seu perfume.
Sem arte tudo fica à parte.
Sem pão tudo fenece
E, depressa, virá o cheiro a morte.
Com arte e pão tudo dará certo porque a paz reina e a esperança acende a vida.
O sol é pão.
A chuva é fogo em brasa que aduba o chão…
Berlim, 21 de Julho de 2020
01h
Jlmg
A humildade dos fortes
A força sabe o que vale.
Por isso se esconde.
Não está para reinar.
Quase tudo o que vê está ao alcance da mão.
Basta querer e já está.
O fraco finge poder, sem poder.
Se aventura por ínvios caminhos donde não sabe voltar.
Às duas por três, tudo perdeu.
E o regresso tornou-se impossível.
Só o socorro de alguém o pode salvar.
Benditos os que só contam o que têm.
Nunca se alcança o que a força não dá.
Ouvindo Pedro Barroso- Pedro Barroso
Roses, 17 de Julho de 2020
17h9m
Jlmg
Ar sobranceiro
Ar sobranceiro.
Não diz o que é.
Tem medo.
Algo esconde.
Finge ser forte.
Cerra o sobrolho.
Se convence que é e não é.
Veste a ilusão.
Seu uniforme diário.
Mal se lhe abre a boca,
Despeja ignorância.
Seu falar é grosso e alto.
Ar corajoso.
No fundo, um medricas.
Com medo de tudo.
Tem medo do escuro.
Se lhe falta a lanterna,
Não sai para a rua.
Teme casar.
Sabe que a mulher é sempre quem sabe.
Só no nascer foi normal…
Roses, 17 de Julho de 2020
8h59m
Jlmg
Derramaram prata neste mar ardente
Derramaram prata neste mar ardente.
Semearam luz neste mar sem fim.
Queimaram fogo como palha a arder.
Secaram sonhos que o tempo levou.
Horas suaves desta tarde de sol.
Um brinde à vida porque a morte vem.
Roses, 16 de Julho de 2020
11h52m
Jlmg
As multidões…
As pessoas se amontoam.
Não somam e formam multidões.
Criam um ser novo.
Diferente.
Com alma própria.
Na forma de pensar e de agir.
Por vezes, irracionais.
Dissolvem as pessoas que as formam.
Elegem os seus ídolos.
À sua ordem, com cegueira, cometem crimes de lesa pátria.
Arrastam para o abismo, sem dar conta.
As multidões são capazes de gerar Hitler´s.
Mao´s.
Staline´s,
Mussoline´s
E o que mais ainda poderá vir.
Se calhar, foi uma multidão voraz, a mando dos poderosos, que gerou esta pandemia avassaladora.
Sem vencedores.
Só vencidos e humilhados…
Roses, 15 de Julho de 2020
16h59m
Jlmg